segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ESPÓLIOS DISSERTATIVOS: DIÁRIO DE UM ESCRITOR (II)


De volta ao laboratório das palavras. Faz dias que o dia é um só e o mundo é composto de palavras de mentira. História. A música na vitrola, a vela na mesa, o punhal no coração... (a última frase, não se pré-ocupe, foi só para aumentar a tragédia... ao som de Raul de Souza)

Falta tinta em minha mesa, falta tinta... só livros, velas, venenos da beleza do ser escritor. A tragédia das palavras, o mal humano. A contrapartida podre, trapaceira que o ser “racional” dessa merda chamada Terra deu aos deuses para que eles dessem uma forma a esse mundo. Bem feito. Deram sangue podre, agora aguentem.

A pessoa só percebe, não era isso que eu ia dizer, mas já que disse, fica aí, a pessoa só percebe. Isso é muito ou pouco? Você vai querer saber, isso é o que é. O valor, muito ou pouco, é argumentável.
A mágica, não conte para ninguém, a mágica é a percepção. Mas é também a expressão da percepção. É a linguagem. É o micro e o macro. Hahahahahahaha. Ganhei! 

Quem inventa a vida sou eu!
julho/2011

ESPÓLIOS DISSERTATIVOS: O DIÁRIO DE UM ESCRITOR

Linguagem. O que é isso que todos falam?

Falam, escrevem, desenham, pintam, esculpem, catalogam, arquivam, fotografam, filmam...
É produzir uma existência que supera o corpo, a existência física. É ser lembrado, é ser esquecido...

Essas palavras traiçoeiras escorregam da minha mente para minha mão. De onde olho, daqui do meu olho, vejo dedos se movendo, segurando a caneta e machucando o papel com as palavras. Se fecho os olhos, tenho dificuldade de escrever, mas, tentando desfocar a atenção de minha vista, começo a sentir o movimento da minha mão...

Essas palavras traiçoeiras escorregam da minha mente para minha mão sem que eu consiga dar a elas o poder de transformar o mundo. Será possível a alquimia das palavras? Chamo para sentar ao meu lado o escritor português Lobo Antunes, médico, psiquiatra, ex-combatente, contrariado, anestesiado, revoltado. E peço para ele me mostrar uma saída. Ao que me responde: “eis o poder criador da palavra... mesmo percebendo e admitindo não encontrar na palavra a expressão exata de meu sentimento”. Ele se entrega ao encanto das palavras, capazes de criar inúmeros mundos.

Essas palavras ensaboadas que deslizam pelas linhas do meu caderno e se distanciam de meus pensamentos. Sentei aqui para escrever sobre a linguagem... e até agora só enrolei. Sinceramente, tenho dificuldade com o assunto. Parece-me impossível dissecar a palavra usando outra palavra.
maio/2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

os passarinhos que aqui cantam também cantavam lá!




 
o quintal em decadência...
fotografias tiradas no início do ano de 2004

lá se vai o sol. os pássaros cantam, as cigarras soam, crianças brincam. lembro-me quando brincava como aquelas crianças dali de baixo. fecho os olhos, vejo o quintal da casa da minha avó, as árvores, o balanço no galho da mangueira. as cores daqueles dias, vejo as cores daqueles dias daqui da janela de casa. imagens que me chegam bem intensas, cheias de brilho. queria poder guardar alguns momentos da vida, guardá-los congelados. e que fosse possível voltar lá quando sentisse saudade. saudade do ser que já não pode vir a ser. 
sensações.
(escrito em 24/01/2005)


 o quintal ainda vivo! 
fotografia tirada por volta de 1987

 os primórdios do quintal...
fotografia tirada por volta de 1974
(por favor, quem já era nascido me refresque a memória!
é essa data mesmo?)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

reverberações dissertativas


Era um sonho recorrente. Nunca encontrava a saída, não conseguia terminar de fazer a mala, não esbarrava na pessoa certa. A procura incessante, distante do fim. Nas noites que sonhava assim, amanhecia cabreira. Uma sensação de desolação, de desamparo, de tarefa não cumprida. 
Foi nessa época, eu procurava uma fonte que me permitisse dizer o que eu queria dizer para a pergunta que eu estava a fazer: “o que fundamenta as diferenças entre a narrativa historiográfica e a literária?” Tendo esse objeto em mente, fui atrás da fonte mais adequada. Perambulei pelo romance de Bernardo Carvalho, abri picadas na Poética da Pós-Modernidade de Linda Hutcheon, saboreei teses sobre a metaficção historiográfica, voltei para o romance contemporâneo na voz de António Lobo Antunes, o psiquiatra português que se tornou escritor de romances autobiográficos e/ou históricos (ou metaficções historiográficas?). Eis que o foco se fecha: psicologia/psicanálise; as palavras e seu efeito curativo. 
Mas de repente surge um ponto ainda mais superficial, mais táctil – o magnetismo animal e seu efeito curativo: uma teoria das sensações, a cura por meio do fluido magnético. O ponto de inflexão onde as palavras não são as coisas; as coisas são elas mesmas e as palavras nem existem no ambiente de cura. O médico é o Archeus, o elo entre micro e macrocosmo que faz fluir a energia acumulada.
Para escrever sobre essa história, contudo, dei também um longo passo de volta retornando ao século XVI, com Villanova e Paracelso. Mas, antes ainda, fiz uma viagem alquímica ao século XIX, passei pelo tempo do Império, de corte portuguesa, de modernidade, sanitarismo e curandeiros, voltei à Alemanha e vi a influência de Mesmer no Romantismo.
Enfim..., se quiser saber sobre o desenrolar dessa história, leia minha dissertação: “O poder alquímico das sensações: um panorama histórico-ficcional da filosofia magnética de Franz Anton Mesmer".

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

sobre a modernidade de baudelaire

 mais uma citação:

"o passado é interessante não somente pela beleza que dele souberam extrair os artistas para quem constituía o presente, mas igualmente como passado, por seu valor histórico. o mesmo ocorre com o presente. o prazer que obtemos com a representação do presente deve-se não apenas à beleza de que ele pode estar revestido, mas também à sua qualidade essencial de presente".
baudelaire, charles. sobre a modernidade: o pintor da vida moderna. rio de janeiro: terra e paz, 1996, p. 8.

quem ouve? quem houve?

quem ouve? quem houve?