terça-feira, 31 de agosto de 2010

triste sina humana


se deus estivesse em todas as coisas

todas as coisas seriam as coisas criadas por ele


a cultura não foi deus quem criou

 ela é humana


o homem é que está

em deus e na cultura

...

mas também não está em todas as coisas

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sai de mim

eu preciso me ver a uma artística distância
de longe e do alto
saber qual é o meu tamanho nesse imenso
mar das palavras, das coisas
pairar por cima delas, voar, sobrevoar
minhas máscaras, ver-me
eu preciso me afastar de mim
ficar de fora da moral que me compõe
decompô-la, desfazê-la
 ver minha aparência

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para que servem as palavras?

— Então afirma - disse van Leyden sintetizando para si próprio as palavras do Marquês - que no fundo, a cura se realiza através da entrega total ao magnetismo e que a mais mínima reserva destrói seu efeito totalmente?
— Não - respondeu Puységur, - embora aquilo que esteja dizendo seja pertinaz, chega a um resultado totalmente errado. Ao invés de deixar que as coisas aconteçam, o senhor trata de se antecipar com os pensamentos. Imediatamente surgem as duplicações e fazem com que tudo retroceda. Quando se começa a falar de alguma coisa, já se perde tudo o que é decisivo. Não existe "entrega ao magnestimo". Porque a entrega total ou a unidade da vontade é o magnetismo propriamente dito e, assim, é um absurdo falar da entrega ao magnestismo. A própria entrega já é mais do que suficiente e é nela que residem os elementos necessários para o sucesso. Pare de produzir ideias a respeito, porque estas seriam apenas formas de evitar ou de controlar.
(A árvore mágica, de Peter Sloterdijk, p. 230-1)

domingo, 22 de agosto de 2010

o sonho que é vida


vozes no meio da noite.

o homem recita poemas de cor.

o homem recitava poemas de cor.

sua voz no meio da noite.

acordei.

o homem estava sentado ao pé de mim

e recitava poemas de cor.

continuou recitando poemas de cor.

desejantes, misteriosos, instigantes,

enigmáticos, voláteis, excitantes.

poemas que o homem recitava ao longo da noite.

arrepiei.

sentia os poemas estalarem no meu corpo.

meus olhos vigiavam,

meus ouvidos captavam a voz,

meu nariz buscava eternizar o cheiro daquele momento,

meu coração batia com cuidado

para que o homem que recitava poemas de cor

não se percebesse observado.

acordei.

e o encanto vagueia pela terra.

escrito em abril/2006

quem ouve? quem houve?

quem ouve? quem houve?