Pois é, organizar papéis alheios dá nisso. A gente acaba descobrindo tesouros... e descobre também que existiam tesouros escondidos para nós... Em dado momento do trabalho, encontrei um grupo de recortes e textos manuscritos endereçados à minha pessoa... ainda que meu avô não soubesse que a pessoa seria eu. O texto, intitulado "Arquive-se", escrito na clássica caligrafia de Célio Rodrigues Siqueira (clássica para mim, obviamente, que cresci lendo os textos de meu avô...), diz o seguinte:
Arquive-se
"Tenho uns papéis guardados que vão se perder, bem sei. São recortes que fui ajuntando pelo caminho numa variedade bem reveladora dos transitórios de espírito então vividos, tendo portanto pouco valor para quem vier depois. Alguns porém devem continuar, e a maneira mais segura de garantir-lhes a dilatação dos prazos que precedem ao esquecimento é trazê-los de volta à luz do dia, onde se aquecerão por um momento, antes de voltarem à escuridão. E para alguém que resolve recortar e guardar o que aqui vai, eis o que diz o poeta Antonio Cícero, de quem nunca ouvi falar:
O senso de justiça de Abraão Lincoln estava presente até nos versos que improvisava, como nestes traduzidos por Milton Amado:
Leia agora "A Devolução da Oferta" do poeta indiano Rabindranath Tagore, na tradução de Guilherme de Almeida:
Infelizmente esse recorte se perdeu... ou está perdido.
Se vier a encontrá-lo, postarei aqui!
Este, copiei de algum lugar, por considerá-lo original e de leitura agradável, embora não leve a parte alguma:
E para concluir, por hoje, eis Franz Kafka, o atribulado e genial judeu tcheko, numa página que bem merece ser guardada, como o recomenda o poeta de abertura destes recortes:"
Por fim, para saciar a curiosidade dos leitores de plantão, segue o manuscrito de C.R.S. onde tudo isso está testamentado...
Quando CRS guardou "Guardar", de Antonio Cícero ("de quem nunca ouvi falar") foi porque foi fisgado pelo poeta. O que eu mais gostava do meu avô era sua capacidade de admirar as coisas independente delas pertencerem ou não ao seu cânone pré-estabelecido. Era um sujeito aberto à poesia da vida. Era um cidadão instigado que não se deixava doutrinar pelas posturas pseudo-intelectuais. Gostava de Alcione, Ray Conniff e outras artes desprezadas pelos cultos de plantão. Era um sábio, um sábio completamente livre.
ResponderExcluirBelo comentário sobre um espírito livre! Tem outras tantas pérolas... que irei postando devagar para não sobrecarregar as mentes leitoras!
ResponderExcluirAbraço!